Por muitas décadas, psicólogos e neurologistas acreditavam que o cérebro completava sua formação na puberdade. Portanto, o cérebro do adolescente deveria ser igual ao do adulto, porém com menos experiência. Contudo, a neurociência vem demonstrando que há estágios críticos e bem demarcados no desenvolvimento cognitivo ainda na adolescência.
A forma de lidar com o estresse, a reação ao consumo de substâncias, o sono e o aprendizado são diferentes na fase da puberdade, com algumas vantagens por um lado e desvantagens por outro. Neste artigo, falaremos sobre o aprendizado do adolescente do ponto de vista neurocientífico. Quem tiver interesse em se aprofundar no assunto, recomendamos a leitura do livro O cérebro adolescente, da Dra. Frances E. Jensen.
Na fase púbere, o cérebro é mais vulnerável e potente do que em qualquer outra época da vida. Ao mesmo tempo que aprende coisas mais depressa, está podando neurônios e sinapses, bem como eliminando massa cinzenta. Ou seja, tem maior capacidade de adquirir conhecimento, mas também de eliminar eles.
Primeiro, precisamos compreender como funciona o aprendizado de maneira geral. As informações são percebidas por meio dos cinco sentidos. Essas informações sensoriais são temporariamente armazenadas na memória de curto prazo e comparadas com informações já existentes no cérebro. Caso a informação tenha relevância, ela se instala na memória de longo prazo por meio das sinapses, que nada mais são do que conexões entre neurônios, as células do cérebro.
A plasticidade neural, isto é, as mudanças cerebrais decorridas da aprendizagem, embora ocorram durante toda a vida do ser humano, na adolescência ocorre de maneira mais ágil. Em outros termos, a capacidade de aprendizagem do adolescente é decorrente da maior maleabilidade do cérebro, pois nesta fase o cérebro se modifica praticamente com qualquer estímulo. Nos adultos, a plasticidade tende a ocorrer em contextos mais específicos.
Além de maior facilidade para criar sinapses, o cérebro do adolescente cria conexões mais intensas por meio de um processo chamado Potenciação de Longo Prazo (PLP). A PLP nada mais é do que um reforço químico nas sinapses já criadas. Os adultos precisam repetir uma tarefa muitas vezes para fixá-la quimicamente em seu cérebro, enquanto os adolescentes precisam de poucas repetições.
Portanto, o cérebro do jovem não só cria mais sinapses, como também faz conexões mais intensas. Por esta razão, a adolescência é o período de identificar os pontos fortes e estimular os talentos emergentes, pois a formação de conhecimento nesta fase irá repercutir por toda a vida da pessoa. Além disso, devido à poda sináptica, neste período etário a correção de maus hábitos e vícios de pensamento é feita de maneira mais eficiente, sendo o momento ideal de corrigir transtornos de aprendizagem ou déficits afetivos.
Este ápice de processamento de informações e aprendizado cria algumas desvantagens para o cérebro na puberdade, como a ineficiência na atenção, na autodisciplina, na conclusão de tarefas e nas emoções. Essas ineficiências são causadas pela dispersão de um cérebro altamente maleável. Deste modo, é importante que os adultos ajudem os adolescentes a definirem tarefas e criarem rotinas, evitando a desorganização.
Pela psicologia evolucionista, a plasticidade acentuada na adolescência tem como razão lógica a sobrevivência. Para se adaptar ao meio ambiente o cérebro precisa ser maleável e flexível, de modo a se adaptar com facilidade em qualquer contexto.
Na vida adulta, existe uma tendência à estabilização da rotina e dos relacionamentos, consequentemente o cérebro se torna menos flexível. Como vantagem, o cérebro adulto tente a ter um raciocínio mais lógico e linear, com maior ponderação, autodisciplina e domínio emocional.
É importante conhecer as características de cada faixa etária, de modo que possamos aproveitar melhor o potencial de cada uma delas. Não existe idade melhor que outra, mas sim o aproveitamento de cada período da vida. Para isso, é importante conhecer a fisiologia humana e agir conforme suas características naturais, sem autoconflitos antifisiológicos.
Neste artigo falamos sobre as características do aprendizado no cérebro adolescente. Na fase da puberdade, o cérebro cria não só mais sinapses, como também cria conexões mais intensas quimicamente. Como desvantagem, esta alta capacidade de aprendizado também leva à maior dispersão. Na fase adulta, embora com aprendizagem menos eficaz, o cérebro tende a ser mais estável, com maior discernimento e visão de conjunto. O importante é entender cada faixa etária e agir inteligentemente de acordo com suas características naturais.
Autor: Luiz Paulo Ramos Cardoso Filho